A Rússia já estaria em uma etapa preparatória de um possível conflito direto com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). É o que sugerem relatórios do ISW (Instituto para o Estudo da Guerra), obtidos e noticiados pelo jornal britânico The Sun.
De acordo com os documentos, o Kremlin entrou no que especialistas chamam de “fase zero” – um estágio de guerra híbrida que combina desinformação, ataques cibernéticos e operações secretas.
O ISW descreve essa fase como “informativa e de preparação psicológica” para um confronto futuro. Enquanto isso, Moscou tem usado a guerra na Ucrânia como campo de aprendizado, aperfeiçoando táticas e testando a reação dos países da aliança.
Philip Ingram, ex-oficial de inteligência e planejador da Otan, disse ao The Sun que o governo russo parece estar analisando o comportamento político e militar do Ocidente diante de ataques com drones, espionagem e sabotagens. “Putin quer identificar brechas e testar se a Otan realmente está pronta para se defender”, afirmou.
Homenzinhos verdes’
Um dos incidentes mais recentes dessa suposta fase preparatória de guerra ocorreu na Estônia, país membro da Otan, que fechou parte de sua fronteira com a Rússia na última sexta-feira (10).
A medida foi tomada após a aparição de sete homens armados e sem identificação perto da chamada “Saatse Boot”, uma pequena faixa de estrada estoniana que atravessa brevemente o território russo.
Autoridades locais disseram que os homens “definitivamente não eram guardas de fronteira” e representavam uma ameaça, segundo o The Sun. O governo estoniano justificou o fechamento da estrada como uma medida para “evitar a escalada” e proteger civis.
O episódio relembra a estratégia usada por Moscou na anexação da Crimeia, em 2014, quando militares russos sem insígnias – apelidados de “homenzinhos verdes” – ocuparam posições estratégicas antes da invasão.
O ISW confirmou que este foi o primeiro registro de presença desses agentes não identificados nas proximidades de uma fronteira da Otan nesta nova campanha ofensiva da Rússia.
Em resposta, o Reino Unido – que mantém 900 soldados a apenas 180 km da região – enviou dois aviões da Força Aérea Real (RAF) para patrulhas. O ministro da Defesa britânico, John Healey, disse que a missão reforça “a unidade da Otan e a disposição para responder a qualquer provocação”.
Europa sob ataques híbridos
Nas últimas semanas, países europeus têm relatado um aumento de ações consideradas “ataques híbridos” da Rússia. Drones sobrevoaram bases militares na Dinamarca, Polônia e Romênia, e o aeroporto de Copenhague precisou ser fechado duas vezes em um mesmo dia.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, declarou que o país foi “vítima de ataques híbridos” e apontou Moscou como principal ameaça à segurança europeia. O chefe de inteligência, Finn Borch, foi direto: “O risco de sabotagem russa na Dinamarca é alto”.
Ao mesmo tempo, um ataque cibernético paralisou aeroportos de Heathrow, no Reino Unido, Bruxelas, na Bélgica, e Berlim, na Alemanha, forçando um retorno temporário a check-ins manuais.
O especialista em segurança Anthony Glees disse ao The Sun que “não há dúvida de que os russos estão por trás dos ataques cibernéticos”.
Além do ciberespaço, caças russos têm violado o espaço aéreo da Otan. Na semana passada, três jatos MiG-31, armados com mísseis hipersônicos Kinzhal, entraram no território da Estônia e permaneceram por quase 12 minutos antes de serem interceptados por F-35 da aliança.
Recentemente, a Polônia registrou 19 violações aéreas em duas semanas, incluindo sobrevoos em plataformas de petróleo e gás. O país chegou a acionar o Artigo 4 da Otan, que prevê consultas entre aliados em caso de ameaça à segurança.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu afirmando que a Otan “não deve hesitar” em abater aviões russos caso novas invasões ocorram. Moscou, por outro lado, negou envolvimento nos incidentes e classificou as acusações como “provocações”.
Ucrânia com ataques a refinarias
Enquanto a Rússia amplia suas operações na Europa, a Ucrânia tem intensificado ataques com drones a alvos estratégicos russos, com apoio de inteligência dos EUA. Segundo o jornal britânico Financial Times, 16 das 38 refinarias de petróleo da Rússia foram atingidas, o que provocou escassez de combustível e aumento de preços internos.
Autoridades norte-americanas informaram que Kiev escolhe os alvos com base em informações de vulnerabilidade fornecidas por Washington, uma cooperação que tem aumentado a eficácia dos ataques.
Os presidentes Volodymyr Zelensky e Donald Trump discutiram recentemente a possível venda de mísseis de cruzeiro Tomahawk à Ucrânia, o que seria visto por Moscou como uma escalada significativa no conflito.
Em resposta a essa possibilidade, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, chamou o armamento de “arma séria”, mas afirmou que “não mudará a situação no campo de batalha” entre os países.
Putin também assinou um decreto para subsidiar o setor de combustíveis, em tentativa de conter o impacto econômico dos ataques ucranianos – uma medida que analistas interpretam como sinal da eficácia da ofensiva de Kiev.