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Brasil pode encontrar na China uma alternativa ao tarifaço dos EUA? Entenda

Com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, a China vem adotando uma estratégia “clara” de reforçar as relações com seus parceiros comerciais. A análise foi feita por Thomas Law, presidente do Ibrachina (Instituto Sociocultural Brasil-China),

“Em vez de depender de um único fornecedor estratégico, a China tem buscado alternativas em nações com as quais mantém boas relações diplomáticas e estabilidade institucional. Nesse cenário, o Brasil surge como um parceiro comercial relevante”, afirma Law.

“Produtos que antes eram majoritariamente importados dos EUA estão agora sendo comprados de países como o nosso, sobretudo nos setores de alimentos, energia, commodities e até insumos industriais.”

Desde o dia 6 de agosto, os Estados Unidos vêm aplicando uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil, a mais alta das alíquotas aplicadas por Donald Trump.

A guerra comercial do republicano tem frontes por todo o mundo, sendo que o embate com a China chegou a escalar a um nível ainda mais drástico no começo do ano.

Até as partes concordarem em sentar para conversar, a Casa Branca confirmou que as alíquotas aplicadas sobre produtos chineses ultrapassaram, em abril, o patamar de 200%.

Em meio a negociações que caminham vagarosamente, a taxa cobrada pelos EUA foi mantida em 30%, mas, até o momento, sem nenhuma garantia de que não vão voltar a subir.

O Brasil já tem em Pequim seu principal parceiro comercial. Contudo, a pauta exportadora à China é muito diferente da destinada aos Estados Unidos, que é um caso peculiar.

Enquanto grande parte das vendas do país aos chineses – e ao mundo – é concentrada em commodities e produtos do agronegócio, os envios do Brasil aos norte-americanos é composta em grande parte por produtos de valor agregado da indústria de transformação, manufaturados.

Alguns analistas veem com dificuldade o redirecionamento para a China dos produtos que seriam enviados aos EUA. Ainda assim, em meio à tensão comercial, o governo Lula e Pequim têm trocado afagos.

Interesses da China no Brasil

No final de julho, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China ressaltou a disposição chinesa de aprofundar os laços com o Brasil em áreas estratégicas.

Mais recentemente, na véspera do tarifaço contra os produtos tupiniquins entrar em vigor, a embaixada do país asitático em Brasília publicou postagens elogiosas ao café brasileiro, com o anúncio de habilitação de novas empresas exportadoras e acenos sobre o crescimento do consumo da bebida no mercado chinês.

“A recente liberação de 183 empresas brasileiras para fornecimento de café é um exemplo de como esse realinhamento abre uma janela de oportunidades concreta para o exportador brasileiro”, observa Thomas Law.

Além deste exemplo, Daniel Lau, conselheiro empresarial especialista no país asitático, destaca que Pequim autorizou 30 exportadores brasileiros de gergelim – passando de 31 para 61 o número de habilitados, quase dobrando as permissões – e 41 de farinha de origem animal a venderem seus produtos aos chineses.

Para Fagner Santos, especialista em comércio exterior e mercado chinês da JF Comex Consultoria, esses movimentos mostram “um redirecionamento estratégico das exportações brasileiras que antes tinham foco nos EUA e agora encontram espaço no mercado chinês”.

No sábado (6), o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse durante o Seminário Esfera Infra, que a China e outros países asiáticos querem ampliar suas relações comerciais com o Brasil em meio ao tarifaço dos Estados Unidos.

Em paralelo, um exemplo concreto de tentativa de aproximação entre as partes veio do Ceará, estado do qual o governador, Elmano de Freitas (PT), se reuniu, no meio da semana, com o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, para discutir parcerias econômicas.

Em entrevista à CNN no começo de junho, antes do anúncio da alíquota de 50%, o gerente do escritório Ásia-Pacífico da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Victor Queiroz, havia sinalizado que, naquele momento, o tarifaço ainda era muito recente – e numa escala menor ao Brasil – para cravar que influências poderia ter na relação comercial com a China.

Porém, projetava que o prolongamento da tensão comercial poderia significar uma “porta de entrada” para o Brasil “se destacar” e buscar variar suas oportunidades de mercado com os chineses.

Semicondutores, sucos, sorvetes, logística, delivery, SAF (Combustível de Aviação Sustentável), fontes de energia renovável e até medicina são alguns dos setores que Queiroz destacou como de interesse da China no Brasil.

A Apex organizou um mapa estratégico de mercados e oportunidades comerciais para as exportações brasileiras na China, que inclui mais de 400 itens e pode ser acessado em seu site.

A conversa com o quadro da agência foi feita no contexto dos investimentos anunciados pelo nosso principal parceiro comercial no país. Para os especialistas ouvidos pela reportagem, o momento é oportuno não só para o Brasil levar seus produtos para a China, como atrair investimentos chineses para o território nacional.

“Já vivemos um aumento expressivo de investimentos chineses no Brasil, e a tendência é aumentar ainda mais com a nova onda de empresas privadas que estão explorando o mundo e buscando novos mercados. E, definitivamente, a América Latina e o Brasil estão se beneficiando ao receber a chegada de novas empresas chinesas na região”, observa Daniel Lau.

Queiroz explica que “a troca é que eles entram aqui para agregar valor”.

“Investimento não só em infraestrutura, mas na área de serviços, que impacta bastante, gera renda e movimenta o mercado. Assim, estimula o consumo e melhora a qualidade de serviços. Eles vão agregar valor nos nossos produtos e exportar para o mundo, além de vender no Brasil, então não é só investir e dominar o Brasil, é gerar renda e emprego”, pontuou o porta-voz da ApexBrasil.