Rússia e Ucrânia concordaram nesta quarta-feira (25) com o primeiro cessar-fogo por escrito desde que Vladimir Putin atacou o vizinho em fevereiro de 2022.
Mediada pelos Estados Unidos, a trégua passa a a valer para o mar Negro, fronteira da guerra que margeia as áreas conflagradas e que vivia uma calma relativa, e também para uma lista de alvos no sistema energético de ambos os países.
O arranjo foi anunciado pelos EUA e confirmado em Kiev e Moscou. Delegações dos rivais tiveram encontros separados nos últimos dias com americanos na Arábia Saudita, e os países divulgaram comunicados semelhantes sobre o acertado —mas com algumas diferenças.
A principal era que a Ucrânia também disse aceitar a trégua nos ataques à infraestrutura energética russa, algo que Volodimir Zelenski havia aceitado após conversar com o presidente americano, Donald Trump. Já o Kremlin, que também havia topado ao telefone, disse que haverá mecanismos para a implementação desse item.
Mais tarde, contudo, o governo russo divulgou uma lista de alvos em seu território e no vizinho que serão objeto da trégua, concordando com sua validade.
Nos comunicados, as partes concordam “garantir a navegação segura, eliminar o uso da força e evitar o uso de embarcações comerciais para fins militares no mar Negro”.
Em janeiro de 2023, os russos propuseram um dia e meio de cessar-fogo para o Natal ortodoxo, que foi observado parcialmente apenas pelo Kremlin. Agora, com a intervenção de Trump, que mudou a orientação americana e passou a negociar inicialmente com Moscou, lentamente parece haver algum avanço.
O mar Negro era o ponto mais fácil para começar, dado que está relativamente calmo nos últimos meses. De julho de 2022 a julho de 2023, esteve em vigor uma iniciativa mediada pela ONU e pela Turquia que permitia o escoamento de grãos vitais para economia ucraniana pelo corpo d’água.
Putin deixou o arranjo acusando Kiev de não cumprir sua parte, ameaçando navios mercantes russos com fertilizantes e petróleo na região —Ancara apoiou Moscou na queixa. A partir daí, passou a bombardear mais sistematicamente os portos ucranianos.
A saída de Zelenski foi concentrar a saída de navios pela costa oeste do mar, procurando abrigo nas águas territoriais da Otan de Romênia, Bulgária e Turquia. Mas seus portos seguiram sendo objetivo de ataques, o que em tese irá parar agora.
Para Moscou, que destruiu praticamente toda a Marinha ucraniana, mas passou a ser alvo de uma guerra assimétrica com drones aquáticos, pode ser a retomada da exportação por uma via mais rápida e barata, já que o mar Negro se liga ao Mediterrâneo e, dali, para o resto do mundo.
“O acesso será restaurado”, diz o texto específico russo. Ambas as versões voltam a falar do comprometimento de Trump em buscar a paz, enquanto a versão ucraniana lembra da “troca de prisioneiros” e da “volta de crianças deportadas”, itens caros a Kiev.
Outro ponto diferente é que o texto ucraniano diz que não deve haver movimentação de navios de guerra russos além da região leste do mar Negro. Hoje isso não muda muita coisa, já que os mísseis de cruzeiro Kalibr lançados de embarcações na região não ocorrem perto da costa controlada por Kiev.
Há alguns nós potenciais. Zelenski, ao comentar o acordo, disse que será preciso ainda determinar qual a punição caso a Rússia descumpra o cessar-fogo.
Já o Kremlin afirmou que para retomar sua exportação na região é preciso que governos ocidentais retirem as sanções sobre a agência de promoção do setor da Rússia. O presidente ucraniano acusou Moscou de “começar a manipular” os termos da trégua, e Trump afirmou que iria examinar o pleito.