Ricardo Nunes (MDB) morou em 2022 já como prefeito de São Paulo em um apartamento de luxo que pertence a um empreiteiro vencedor de contratos sem licitação com a gestão municipal.
Procurado pela Folha, o prefeito disse que não sabia que o imóvel tinha como dono um fornecedor do município e que o episódio se trata de uma “grande e infeliz coincidência”.
Nunes afirmou ainda que desembolsou apenas 1/4 do valor do aluguel desse imóvel, já que o restante foi todo pago pela imobiliária que intermediou a locação a partir da compensação de uma dívida anterior que tinha com o prefeito.
Essa imobiliária pertence a Ronaldo do Prado Farias, que já teve contratos com creches conveniadas da prefeitura e foi diretor da autarquia SPObras (São Paulo Obras) por indicação de Nunes.
O apartamento usado pelo prefeito em 2022 está registrado em nome da empresa Imóveis Ravello Ltda., de propriedade de Fernando Marsiarelli, que também é dono da empreiteira F.F.L. Sinalização Comércio e Serviços Ltda.
Os maiores acordos sem licitação entraram em vigor no ano de 2023, após Nunes ter ocupado o apartamento, quando somaram R$ 386,7 milhões.
O imóvel do empreiteiro tem 266 metros quadrados e fica em um edifício com dois apartamentos por andar no bairro Jurubatuba, na zona sul da capital.
Nunes disse que sua família ocupou o imóvel por cerca de quatro meses, entre o final de maio e setembro de 2022, quando sua casa, no bairro de Interlagos, estava em reforma.
O prefeito afirmou que foi a mulher dele, Regina, quem realizou as tratativas sobre o apartamento com uma imobiliária chamada Lopes Invest House e verificou seis opções antes de fechar a locação.
Nunes disse que só tomou conhecimento sobre o negócio depois que ele já tinha sido concretizado pela esposa. Afirmou que nunca teve nenhum contato com o empreiteiro dono do imóvel.
“Eu posso garantir que tudo [foi] correto, de forma idônea, nada de irregular, nenhum tipo de benefício. Nem conhecemos essa pessoa, zero de relação e de contato que possa suscitar algum privilégio ou algum benefício voltado à questão de ele prestar serviço à Prefeitura de São Paulo”, declarou Nunes.
Indagado sobre o pagamento do aluguel, o prefeito afirmou que, de um total de R$ 48 mil da locação, R$ 35 mil foram quitados pela imobiliária de Ronaldo Farias.
Segundo Nunes, isso ocorreu porque a empresa de Farias tinha uma dívida com ele nesse valor e fez o pagamento de parte do aluguel para compensar o débito. A sede da imobiliária, diz, funciona em um imóvel que pertence a uma de suas empresas.
Durante oito meses na pandemia, de acordo com o prefeito, a imobiliária solicitou o adiamento de pagamento de R$ 6.000 por mês, e o crédito gerado por esse acordo foi utilizado para quitar parte do aluguel do apartamento ocupado pela sua família em 2022